quinta-feira, fevereiro 12, 2004

A Política

Hoje deparei-me com um dilema interessante. Considerei-o interessante sobretudo porque me levou a tomar uma decisão da qual, a meu ver, o país só poderá beneficiar. O problema passa por ser o seguinte: depois de ter discutido com uma amiga minha a questão do referendo, já aqui extremamente mencionada (por mim, pelo menos), apercebi-me que defendo ideias de lados supostamente antagónicos, isto é, sou a favor da legalização do aborto, mas também não sou contra o controlo da imigração. Ou seja, defendo uma ideia cara à esquerda e outra cara à direita.
Resumindo, não sou de direita nem de esquerda. Como ser do centro é não ser de coisa nenhuma, encontrei-me perante um dilema periclitante: donde sou? para onde irei?
Surgiu então a ideia de criar um partido. Surgiu PCA, ou se preferirem, Partido do Comum Acordo. Decidi-me a analisar a ideia mais profundamente. Comecei por fazer uma lista de todas as pessoas que conheço que quisessem aderir. Comecei mal. Por enquanto, estava lá apenas um. Pelos vistos, não ser de nada vai contra muitos critérios sociais. Há-que ser, à força, de alguma coisa, nem que seja para mandar umas quantas baboseiras em conjunto. Palavra-chave: conjunto.
Visto que a lista de membros do PCA era muito reduzida, decidi começar então a formular os princípios do partido.

Princípio 1º - Não se é de esquerda, nem de direita, nem de centro. É-se do acordo comum entre os dois (o centro, lembrem-se, não conta).
Princípio 2º - Membros: Presidente e Fundador - tal, tal e tal.

A partir daqui comecei a matutar. Se não há mais membros, em quem é que vou descarregar a raiva quando o partido receber um voto (o meu, pois claro) nas eleições? Ora aí está, mais um dilema. Decidi procurar desconhecidos que quisessem aderir. Tarefa incompreendida: fui tomado pela Nova Democracia, pela IURD e por membro do Governo. Quando se deu esta identificação, pisquei os olhos e, em questão de segundos, tinha uma multidão pronta para me linchar. Quando correram rumores pela multidão que eu era do gabinete do Ministro Bagão Félix, foi o descalabro. Parecia a famosa Marcha de Mussolini sobre Roma: todos armados com pedras e paus a quererem trucidar-me, aos gritos de "Não queremos mais trabalho!", "Melhores Salários", "Redução para 5 horas mensais do trabalho activo" e "O Melão é gay!"

No fim de todo este problema, cheguei a uma conclusão esclarecedora. Já que não sou nem de esquerda, nem de direita e o costume político não contempla ser de Frente (porque de Trás há lá muita gente), resolvi prontamente a questão: a partir de hoje, sou abstémio.