quarta-feira, maio 19, 2004

O costume e a sua treta

Está em marcha o Jantar de finalistas dos Salesianos de Lisboa. À boa maneira salesiana, que se reflecte obviamente nos seus alunos, primará este jantar pela frugalidade, a começar claro, no Jota maiúsculo, necessário para conferir à coisa toda a pompa e circunstância que o "think tank" representativo dos alunos (leia-se, aqueles que não têm mais nada para fazer) esperam que a dita venha a ter.
Como tal, vamos à Kapital! Ou melhor, à taska. Se estamos a ser frugais, sejamos verdadeiramente frugais. Para começar, evitam-se as distinções: os alunos têm, ou melhor, devem ir todos "de gala". A diversão principia. Dezenas de betinhos e betinhas vestidos a rigor encaminham-se para a Taska da Kapital. Mas não se enganem. À boa maneira salesiana, tudo prima pela simplicidade. A começar nos menus. Três pratos diferentes, cada aluno fica encarregue de escolher préviamente o seu. Massa com gambas, picanha e uma terceira comidinha leve, enfim, frugal, cujos ingredientes me falham neste momento. Tudo muito bem regado com sangria à discrição. A simplicidade prossegue a sua marcha. Entretanto embarcam todos de seguida para a Kapital. Sem apelo nem agravo, e ai de quem não quiser, vê logo 10 Euros a arder. E nós sabemos que a arder só as almas daqueles elitistas snobs que resolveram não comparecer a esta salesianíssima ceia dos pobres na Taska da Kapital. Assim, a uma quinta feira de aulas, os devotos alunos encaminham-se, a maior parte deles extremamente contrariados, diga-se em abono da verdade, para a discoteca da Kapital, para virarem mais uns copos, coisa pouca, só para ajudar à digestão. O preço do jantar é a frugalidade em pessoa: 30 euros por cabeça, com a entrada na discoteca já paga. De tudo isto, sobejam, juntamente com os restos, algumas perguntas: e quem não quiser ir à discoteca, como é? Recupera o seu dinheiro? Se é tudo feito à boa maneira salesiana, deveria recuperá-lo, não é verdade? E já agora, porquê de gala? Um jantar tão frugal, para quê misturar ainda mais as pessoas que já vão conviver de forma tão amena umas com as outras, por entre os arrotos de uns e os vómitos de outros? E os elitistas snobs, não têm direito a jantar? Será que a JSD (Juventude Salesiana Democrata) não pretende incluí-los nos seus quadros, somente por terem sido rotulados de contestatários? E porque razão é que se praticam preços destes? Porque há quem pague? Mas será que quem paga não gostaria de poder ter uma voz mais activa, ao invés de se limitar a saciar a vontade de um grupinho? Enfim, tudo questões frugais. Tal como o jantar de 30 Euros, com entrada (não-reembolsável) incluída na Kapital, três pratos absolutamente extraordinários à escolha, tudo de gala, sangria à discrição e aulas no dia a seguir. Resta-me perguntar à divindade aqui de cima a razão pela qual ela resolveu fazer de mim um elitista snob com ideias próprias sobre o caso.