domingo, junho 27, 2004

A Razão (para nunca mais ter escrito nada)

É simples. Ando com falta de paciência, de imaginação, de tempo e, pior que tudo, de assunto. Sou da opinião que cada um tem o seu mar interior e que, da disposição desse mar está dependente a nossa própria disposição. A minha é, de momento, semelhante à que qualquer velejador que se preze detesta: calmaria. Sem vento, sem ondas, sem o que quer que seja que lhe possa conferir um carácter interessante. Claro que devemos saber velejar em todos os mares. Na calmaria, aguarda-se simplesmente que passe. O problema é nunca nínguem saber quanto tempo é que demora até que o vento volte a soprar furiosamente.

Limito-me, pois então, a aguardar pacientemente. Entretanto surge, na forma de uma baleia de bossa um exame nacional de Direito. Depois abre-se um horizonte oceânico à minha frente durante, pelo menos, dois meses e qualquer coisa. Quando terminar este período, vou chegar a uma ilha qualquer com selvagens que me vão prender durante cinco anos, enquanto me fustigam com o chicote das leis, da constituição e do código civil. No fim desses cinco anos, volto para a minha terra donde emigro novamente para um país verdadeiramente civilizado, conhecido pelos seus fish-n-chips e pela capacidade de consumo de cerveja dos seus habitantes, que o fazem em quantidades tais que seria possível alterar o PIB do Luxemburgo.
No fim de tudo isso, instalo-me num escritório qualquer. O mar, esse, já só o vejo da varanda. E lá ao fundo, o horizonte.