segunda-feira, fevereiro 09, 2004

A formação

Quanto mais conheço a nossa juventude, mais ela me desaponta. E o que mais me desaponta é verificar que a de hoje em dia, na sua maior parte, exibe as características exactas da mentalidade portuguesa.
A razão pela qual digo isto radica sobretudo num problema que tenho tido na minha aula, pela razão mais imbecil à face desta terra: o trabalho. Sucede que sou, de longe, o aluno mais trabalhador da minha turma. Não é graxa, não é hipérbole. Eu gosto de trabalhar, tenho orgulho, tenho brio no meu trabalho, e juntam-se a estes factores características como uma necessidade de competição ferocíssima e a tentativa, nem sempre alcançada, de ser o melhor, o primeiro, o Primus Inter Pares. São formas de estar na vida, e esta é a minha. Todavia, há algo nesta filosofia de vida que perturba os meus colegas, sobretudo porque este comportamento é totalmente enaltecido pelos professores, que, babados por encontrarem mais um aluno que torna o trabalho deles meritório, se desfazem em elogios e em simpatias.
Obviamente que já ganhei o epíteto de marrão, de graxista, entre outros que não vale a pena mencionar. E é sobretudo isto que me entristece, pensar que este é o destino social de uma pessoa com uma grande capacidade de trabalho, que só tenta safar-se sem nunca prejudicar os outros.
Mas a todos eles, aos que imbecilmente me criticam, respondo com uma frase simples: mandem-me postais dos centros de desemprego! Duro? Talvez. Mas sabe tão bem...