domingo, fevereiro 08, 2004

Modern Times

A feliz evolução social da mulher que se deu no século XX no mundo ocidental foi, citando Neil Armstrong, "um grande passo para a humanidade". Direitos de todos os tipos, liberdade de expressão, libertação social, capacidade de escolha, igualdade a vários níveis, enfim, um sem-número de mudanças que vieram revolucionar toda aquela forma primitiva de discriminação.
Todavia, esta revolução acarretou algumas consequências: quebras de natalidade, envelhecimento da população e a mais preocupante de todas, o declínio do lirismo romântico.
Dirão alguns: mas esse declínio foi provocado pela revolução sexual! Concordo, mas a capacidade de escolha é muito importante, como também o foi o evoluir de mentalidades. De que me queixo? De nada no geral e de tudo em particular.
Graças a uma obtusidade social plena, não compreendo as jovens de hoje. Não compreendo os gostos, não compreendo os gestos, os sinais, não sou capaz de discernir se a jovem apenas pretende copular desenfreadamente ou se deseja um relacionamento mais sério, onde o sexo seja constante, mas com o amor presente. E onde é que entra o lirismo? Exactamente nesta altura do texto. Anteriormente, em tempos passados a conquista masculina de uma belíssima rapariga cujos atributos estivessem bem patentes a um primeiro olhar ou a de uma outra que precisasse de um pouco mais de atenção era feita através dessa brilhante arte que era a poesia romântica, no qual, supostamente, os portugueses seriam mestres. E que conquistas brutais eram essas, onde os versos frenéticos demonstravam ternas carícias, profundas paixões, brutos desejos! A rapariga em questão recebia o soneto, a quadra, a rima branca até e quase desfalecia perante a magistralidade do sentimento que nela estava imbuído.
Hoje em dia, nos tempos modernos, basta enviar uma sms a chamar padeira à mãe da dita que em vinte minutos está ela a bater-me à porta e a pedir-me que lhe cozinhe um tipo de massa italiana fabuloso cujo nome fica para outro post.
Talvez seja mais complicado do que isto, quem sabe até mais simples, talvez seja eu que sou velho, ou, quem sabe, nunca fui novo...