sábado, janeiro 24, 2004

Ah, se eu fosse de esquerda...

Vinha eu acompanhado pelos meus passamentos em pleno Território Ocupado (vulgo Chiado), andando calmamente, desfrutando o cheiro das castanhas quentes, enfim, a saborear o momento, quando vejo o Francisco Louçã. Pensei que não poderia ser, estava a ter visões, misturei demasiado ácido na DDR de estriquinina. Mas não. Para minha grande felicidade era ele. Felicidade? Mas então eu gosto do Francisco Louçã? Obviamente que não. Mas esta era uma brilhante oportunidade para, por exemplo, dar asas à minha internacionalmente reconhecida capacidade escarratória, ou escarrativa ou o raio que parta esta merda desta palavra.
Ele lá estava, segurando o seu fabuloso bloco, na tentativa de recolher mais algumas assinaturas para um referendo sobre a despenalização do aborto. Dirigi-me na sua direcção, estabelecemos contacto visual. Quando pensei que ele me ia perguntar se eu queria assinar, para que eu pudesse responder a viva voz que achava que o aborto deveria permanecer ilegal, pelo menos até à extinção do Bloco de Esquerda, eis que ele se vira para outra pessoa, que prontamente segura no bloco por ele e rubrica lá, naquela folhinha (de cannabis, pareceu-me) a sua assinatura.
E eu, que fiz? Continuei o meu caminho. Nem um pontapé, nem um insulto, nem um escarrozito a voar.
Ah, que nojo tenho de mim, por vezes...