segunda-feira, janeiro 05, 2004

A twelve man show

No passado Domingo, dia 5 (ou seja, ontem) sentei-me calmamente em frente à televisão. Ao meu lado esquerdo os amendoins, ao direito os cajus. No meio, juntamente com a virtude, a grade. Programa nocturno: Levanta-te e Ri! Pelos vistos, ia estrear-se um novo "stand-upper" que punha o Jerry Seinfeld a um canto. Exultei. Por essa razão específica é que o programa estava a dar ao Domingo, ao invés de na segunda-feira.
Começou. Bruno Nogueira, Milton, os habitués todos.
É então que Marco Horácio entra em palco e anuncia a entrada da grande estrela. Todavia, explica primeiro a "toda a gente aí em casa" que este senhor da comédia é o homem dos sete ofícios. Ele faz stand-up, conta piadas, faz magia, toda uma série de entretenimentos e como custou muito caro à SIC convidá-lo, ele vai fazer o número completo, durante 90 minutos, mais coisa menos coisa. É então que entra a grande estrela: moreno, 1.72m, cabelinho puxado atrás com gel, enfim, um primor!
Começa por se apresentar: "Olá, eu chamo-me Pedro Proença e vim fazer o meu número. Contudo, queria primeiro agradecer o cheque à SIC, bem como o Mercedes e a casa no Estoril, devo dizer que são tudo o que sempre sonhei. Agora se me dão licença, vou começar!"
Houve um pormenor que me esqueci de referir: o senhor em questão era tão bom e foi tão caro que foi necessário alugar um estádio para que ele actuasse. O estádio, como é óbvio, encheu. 65 mil pessoas no total! Uma enormidade! Honestamente, não conseguia acreditar naquilo. Foi então que abri mais uma garrafa de cerveja.
Principiou com uma piada. Confesso que já não me lembro muito bem, qualquer coisa sobre um tipo chamado Silva que passa ao pé doutro chamado José M-qualquer-coisa, manda-se para o chão e o polícia leva o José qualquer-coisa preso por agressão. De chorar a rir!
A piada foi tão hilariante que até me engasguei com um amendoim.
Entretanto faz um bocado de stand-up, outra vez sobre um brasileiro que bate num preto e vão os dois presos. Parece-me que exagerou ligeiramente na questão da cor, enfim, lá diz o ditado, "não podemos gostar todos do vermelho" mas parece-me que também não devemos ficar-nos só pelo verde, há que ter uma posição intermédia, tal como a virtude e a grade.
Entretanto, o tempo foi passando, nada que mereça registo, um espectáculo fraquinho. A certa altura o público começou a assobiar, a chamar-lhe ladrão, gatuno, palhaço. É compreensível, a SIC é uma estação muito amada e estava a ser altamente ludibriada. A merecer destaque só mesmo as anedotas altamente racistas, com um preto chamado Miguel que fazia não sei o quê. No fim mais uma disputa rácica, entre um qualquer coisa seixo e outro gajo de cor.
Eu já não podia ver mais amendoins e cajus à frente, e as piadas altamente racistas já me tavam a irritar. Foi então que ele fez um número de magia, basicamente conseguiu desaparecer dali tão rapidamente que a enfurecida multidão não lhe conseguiu, com muita pena minha, pôr as mãos em cima.
Ah sim, mais um pormenor nada importante a referir: por qualquer razão que não foi do domínio público, quando este suposto grande comediante entrou em cena, o programa começou a ser emitido pela Sport tv. Enfim, weird!