segunda-feira, fevereiro 23, 2004

O Dinheiro

Hoje estive próximo da felicidade que se abeirou de mim num invólucro rosado e semi-inconsciente de apenas um mês. Escrever neste blog que sempre gostei de crianças pode valer-me um mandato de captura e prisão preventiva, mas não me interessa, é a mais pura das verdades, não o sendo, como é óbvio, no sentido casapiano do termo. Foi-me então dado a conhecer, hoje, uma bébé de apenas um mês, de nome Leonor. Inacreditável, pensei simplesmente. Não pode ser tão pequenino. Mas era. Mas é. E a fragilidade, o não-sei-bem-o-quê daquele pedacinho de gente fez-me repensar muita coisa.
Sempre defendi uma carreira, reportando-se este sempre à idade em que realmente comecei a ter conhecimento da realidade e, mais do que isso, de tudo aquilo que o dinheiro, o prestígio, a ambição, o poder me poderia proporcionar. E a oferta era demasiado aliciante. Escolher entre um emprego meramente satisfatório, entrando às 8h30 e saindo às 19h, com uma família à espera e um que me permitisse, em cinco anos, atingir a sociedade do escritório não estava sequer em cogitação. Precisava de ter nas mãos a capacidade de trepar pelas inclinadas e escorregadias paredes do sucesso profissional. E, para tal, não poderia ter horários. Seria trabalhar non-stop, from sunrise till sunset. Como é óbvio não haveria espaço, tempo ou paciência para "famílias". Até porque ter uma relação completa, ser pai, ser marido(ou apenas "companheiro"), implica toda uma série de responsabilidades e de "obrigações" que teria de acarretar. Resumindo, nada disso fazia sentido. Até hoje. Hoje repensei. O processo introspectivo inquire o espírito: "Mas tem realmente a certeza que só quer é dinheiro? Não gostaria de ter de tomar conta, de se responsabilizar, de educar, de ver crescer aquele grãozinho de gente?". O espírito, bastante corrompido pelo poder das "verduscas" (sim, porque o Euro, sejamos francos, é uma tanga), coibiu-se de responder. Exigiu um advogado. Chegou a Tragédia, a mistura do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco. Depois de um período de aconselhamento, resolvi-me pela família. Também posso ter uma carreira de sucesso, mas não pretendo definitivamente abdicar deste genial processo de criação.
Claro que muito dinheiro ajudaria. Mas como poderia eu ensinar o miudo a fazer uns lançamentos decentes e a venerar o Kobe Bryant se estivesse a suar as estopinhas a ganhar cash?