quarta-feira, fevereiro 18, 2004

O Ensino

Que o nosso sistema de ensino funciona mal, não é novidade para ninguém. Que o nosso sistema de ensino no que toca ao português, a constactar pelas calinadas que se ouvem e se leem por aí, é miserável, também não é uma informação particularmente actual. Agora que nós, auxiliados pelo nosso fabuloso sistema de ensino, nomeadamente no que toca ao Português A, somos liricamente antropófagos, aposto que ninguém sabia.
Esta afirmação vem na sequência de um estudo prolongadíssimo e exaustivo de Fernando Pessoa, ou, como gosto de lhe chamar, FP (porque se me irritar com ele, posso sempre utilizar o double meaning). Ora bem, acontece que este FP, para quem possa já ter esquecido, revolucionou por completo a poesia portuguesa. Por várias razões, sendo a única que neste momento me ocorre a de nunca ter escrito um poema de amor a uma mulher, com desejo físico e espiritual, da sua mente e do seu corpo, respectivamente. Adiante: não suporto as dores de Fernando Pessoa. Não consigo compreender a sua dor de pensar, a sua intelectualização do sentir. Ou melhor, consigo, mas odeio. E este ódio, tal como a metástese provocada pelo tumor, alastrou-se ao meu lóbulo poético, corroendo-o. Neste momento, odeio Fernando Pessoa. Quem culpo, pelo meu ódio? O sistema de ensino, sem dúvida. Porque Fernando Pessoa não foi feito para ser analisado, esquematizado, ridicularizado pelos espíritos semi-apolíneos do Aterro. E, sobretudo, não foi feito para pessoas como eu, que não são capazes de suportar a consciência da sua igenialidade, mormente perante a genialidade dos outros. Resumindo, odeio Pessoa mas adorava conseguir adorá-lo. Talvez um dia, tendo sempre, porém, a noção que esta minha adoração ficar-se-á a dever pura e simplesmente à espectacularidade do génio e não à imbecilidade do homem (nomeadamente, aquele que achou que deveríamos analisar FP a Português A no 12º Ano).