terça-feira, fevereiro 17, 2004

O Dia

Há dias e dias na(s) vida(s) de cada um. Cada um faz deles o que deseja ou o que pode. Hoje resolvi apelidar o meu de "Dia Columbine". Não tem nenhuma característica em particular, a não ser, claro, a proveniência do seu nome. Columbine... o pesadelo do sistema educativo do mundo em geral e do americano em particular. Dois jovens, o "gang da gabardine", entram numa universidade e assassinam a sangue frio 13 colegas e não sei quantos professores. A América desaba. Várias questões surgiram. No cerne de todas elas estavam dois autênticos miudos, quiçá completamente perdidos. As culpas, essas, foram postas em toda a indústria americana, começando nos videojogos e acabando na das armas. Todavia, ninguém pôs a culpa em cima daqueles que têm, a meu ver, grande parte das responsabilidades: os colegas.
Exacto, os colegas. As vítimas. Não contesto que o foram e que o são. Não contesto que tenha sido um espectáculo horrível, trágico e sangrento. Não contesto que muitos inocentes terão morrido e que o que lá se passou foi uma autêntica carnificina. E não defendo os dois jovens, até porque não hé defesa possível. Tenho consciência, porém, que eram pessoas completamente alteradas, que ficaram ainda pior depois de serem expostas a gente como a que encontramos muitas vezes nas escolas e até mesmo nas próprias salas de aula. Gente completamente disforme, desprovida de qualquer tipo de valores, de ideias e de inteligência. Claro que a medida que ambos tomaram foi atroz e totalmente errada. Mas há alturas em que a única maneira de ter paz e sossego é fazendo calar as outras pessoas que nos incomodam. Seja a bem ou a mal.
Os meus "Dias Columbine" são assim. Gente que fala, que respira, que não sabe estar calada, que provoca revoltas e que provoca angústias profundas. Claro que nunca pensei em entrar na sala de aula com uma M-16 e disparar indiscriminadamente sobre quem lá se encontrasse, até porque tenho lá dois grandes amigos. A razão pela qual lhes chamo "Dias Columbine" é porque sinto nesses dias a mesma angústia, a mesma insuportabilidade de aturar aquela gente como terão sentido os putos de Columbine. Para(re)fraseando Sartre " O meu inferno são os outros".