terça-feira, junho 15, 2004

Portugal

Quando surgiram as primeiras notícias que indicavam que Luis Felipe Scolari poderia ser treinador do Benfica, confesso que desesperei. Nunca gostei do estilo de "Felipão" ou, como é naturalmente conhecido no Brasil, do "Sargentão". O seu curriculum nunca me disse nada por aí além e o facto de ter sido campeão do mundo muito menos. Bastava uma simples análise ao Coreia-Japão em 2002 para perceber que as condições eram verdadeiramente adversas para todos os principais candidatos ao título, nomeadamente os europeus. Ganhou quem tinha as melhores individualidades, que foram resolvendo jogos atrás de jogos. Sempre com uma pequena ajuda dos árbitros coreanos, japoneses e iranianos, compreensivelmente (ou não) nomeados para apitar a fase final de um campeonato do mundo.
Por essa razão é que recebi com desagrado, na altura, a notícia que Scolari ia ser o treinador da selecção nacional portuguesa. A culpa, obviamente, não é dele, mas de Gilberto Madaíl, que lhe ofereceu 30 mil contos por mês para ele fazer tudo o que fez. Por esse preço tinham ido buscar o Queiroz. Os resultados, se calhar, seriam equivalentes mas salvaguardavam-se os valores nacionais.
Mas Scolari era campeão do mundo, tinha uma postura de líder, de tal forma impostura que não foi capaz de reconhecer que a Geração de Ouro está gasta, decrépita e já deveria ter pendurado há muito os equipamentos da selecção das quinas, a começar por Figo, jogador acomodado, sem pernas que pudessem fazer frente à velocidade dos defesas gregos que, diga-se de passagem, não eram tão velozes quanto isso e a acabar em Pauleta, com Costinha pelo meio. Era necessária uma enorme revolução. Scolari, cujas capacidades foram tantas e tantas vezes exaltadas, não foi capaz de a fazer. E Portugal perdeu. E perdeu bem. E vai perder nos próximos jogos.
Altercam-se já os espíritos mais nacionalistas, erguendo o indicador na minha direcção, como se de um herege nos tempos da Inquisição se tratasse. Não é que eu não tenha confiança na selecção dos luso-brasileiros. Acho apenas que se fez demasiada publicidade a uma equipa que já teve os seus tempos áureos e que é agora uma sombra de tudo o que foi. Além disso, nunca quis ver o Deco na selecção. Digam o que disserem, façam o que fizerem, ele é e será sempre um brasileiro. Pouco me importa que no passaporte esteja escrito português.

Quanto à reacção do público, não é possível sequer considerá-la inesperada. Mais uma vez, os adeptos portugueses mostraram tudo aquilo que são, tecendo duras críticas à mesma equipa que noventa minutos antes aplaudiam com uma ferocidade hercúlea. Não que os jogadores não merecessem tudo aquilo que sobre eles foi dito. Pelo contrário, achei pouco. Agora, os que antes aplaudiam e acreditavam devem fazê-lo até ao fim. Por uma questão de consciência. Ou então apupem logo no início do jogo. Assim, se a selecção ganhar ou perder a jogar bem (as chamadas "vitórias morais") poderão admitir o vosso erro e exclamar que ficam felizes por ver que "a equipa sempre superou as expectativas". Claro que isso não vai acontecer, portanto o melhor é mesmo desistirem de ver futebol. O português, pelo menos. Eu já desisti. Honestamente, não estou nada arrependido.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"E Portugal perdeu. E perdeu bem. E vai perder nos próximos jogos."
Que engraçado, afinal não és dono da verdade absoluta! Lendo a forma impressionante como escreveste este texto, ninguém iria imaginar que alguma vez poderias errar naquilo que dizias...
Mas não desanimes, um dia destes vais crescer (sim, porque mesmo não te conhecendo, pela forma como escreves, aposto que não tens mais de 18 anos) e perceber que existe todo um outro mundo para além das tuas presunções...

domingo, junho 27, 2004 9:22:00 da tarde  

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