terça-feira, dezembro 09, 2003

O Anticomunismo

Confesso que sou anticomunista. Confesso-o com um despudor anódino proveniente da minha tenra idade e do meu Estado democrático, que me permitem dizer o que bem entendo sem qualquer receio de receber um convite irrecusável para uma visita permanente ao Tarrafal ou a Caxias, partilhando, quien sabe?, a cela com o camarada “Daniel”.
Sou anticomunista, não só por ser um inveterado capitalista, mas porque não me entendo com utopias, com a não existência de propriedade privada e, sobretudo, com a execrável ideia de pôr o povo no poder. Não me entendo com partilhas de bens, de capitais e com essa fraternidade podre inerente ao sistema comunista. O Homem, ao contrário do que Rousseau e Hobbes possam defender, não sofre transformações. Nasce mau e permanece irremediavelmente mau até ao fim da sua mísera existência. O Homem é individual, aspira, anseia, quer, obtém, ou deseja obter. Por isso é que cada comunista tem uma costela capitalista: todos desejam mais, todos desejam subir, todos aspiram a lugares mais altos, a patamares, a riquezas materiais. Quem o negar, nega a sua própria condição. Como pode um ser assim aspirar a valores universais como a fraternidade, a igualdade, quando sente uma necessidade premente de realização individual? Eis a utopia em todo o seu fulgor: transformar o Homem naquilo que ele nunca poderá ser porque simplesmente não é de sua natureza. Acreditar no Homem, acreditar na sua mudança é a principal falha do comunismo. A Revolução russa é o melhor exemplo. Tome-se o caso de Estaline: não se aproveitou ele de toda a ideologia comunista para instaurar uma ditadura e para se instaurar como ditador supremo, matando milhões e milhões a bem da manutenção do seu regime?
Nesse aspecto o capitalismo não soçobra, porque reconhece a fraqueza do Homem e explora-a, manietando-o como a uma marioneta cujos fios são feitos do “vil metal”. E o Homem ama o capitalismo porque, na sua soberba estupidez, pensa que controla o objecto controlador. E sente-se bem. E a moeda, com todo o seu níquel, o seu ferro e o seu grama de ouro triunfa sobre a foice e sobre o martelo, de ferro mole e fraco, estabelecendo um sistema económico que controla as massas que a pretendem derrubar. A racionalidade do capital chega a ser palpável.
No fim, todavia, devemos reconhecer uma utilidade ao comunismo: permite pôr os sonhadores de parte, engendrando políticas utópicas e populando blocos de esquerda e outros absurdos que tais enquanto os outros, sejam eles o que forem, vão tomando as rédeas do mundo. Bem Hajam!